domingo, maio 3

FORAM ESTAS MÃOS


Sentam-se à porta, as mulheres de preto e tecem o que resta dos afectos
Gente chamada solidão




Foram estas mãos que lavraram a terra, que semearam o trigo, que ceifaram as searas.
Foram estas as mãos que amassaram o pão das refeições do patrão.

Foram estas mãos que ordenharam o gado que dava o leite que bebia o filho do patrão, elas faziam o queijo, cavavam a terra, colhiam a fruta, faziam a mesa, a cadeira, teciam os cortes dos vestido da senhora, dos bibes dos meninos...

Foram estas mãos, simples mãos, marcadas, calejadas que lhe fizeram o caixão, que abriram a cova e enterraram o patrão.

São estas as mãos dos explorados.

São estas as mãos dos Homens esquecidos.
Roubado ao Maltês ( fotos e textos, pela ternura que os mesmos encerram)

7 comentários:

mfc disse...

São essas as mãos que dão vida e a tornam colorida.

Susete Evaristo disse...

Como te compreendo amiga.
Ainda hoje tive nas minhas mãos, trabalhos feitos pela minha tia Ana Isabel, que carinhosamente tratávamos por Nanã.
Trabalhava no campo de sol a sol desde os 10 anos, na ceifa, na monda, na apanha do grão, na apanha das azeitonas, mas chegada a casa após a lida, muitas rendas e lençóis com bainhas abertas bordadas, foram feitas por ela.
As mesmas mãos fortes no trabalho do campo tornavam-se delicadas quando enlaçavam a linha na agulha de crochet ou nos bordados.
Saudade...

maltes disse...

Pois é Xica a verdade é que aprendemos a amar estas mãos e estas gentes, gente que lutou incansávelmente por uma "terra sem amos", gente que ocupou terras abandonadas e que as pôs a produzir, mãos que nos afagaram também, gente que sabia que eramos miudos mas que já sabiamos ser solidários.
Obrigado pelo carinho que como sabes é mutuo.
Beijinho

XICA disse...

mfc, é mesmo isso, o que escreveu é exactamente o que sinto quando olho para estas mãos. Apesar da penosidade do trabalho que as moldaram, elas transformam tudo num simples arco iris.

XICA disse...

Susete, a riqueza dos enxovais saídos destas mãos é qualquer coisa de indescritível, mais ainda porque sabiamos da riqueza dos sentimentos que colocavam nas coisas ao fazê-las. Hoje mais do que nunca eu preciso de ter tudo isto perto de mim, poder tocar-lhes, sentir-lhes o cheiro.

XICA disse...

Maltês, aprendemos porque nos ensinaram, cá está mais uma vez, a simplicidade das coisas quanta beleza encerra e como nós gostamos.
jinhos grandes amigo

Susete Evaristo disse...

E mal sabes tu que ainda tenho rendas do enxoval da minha mãe feitas com (meadas) de linha de alinhavar que eram resistentes e noutros tempos (anos 20/30)não havia dinheiro para novelos de linhas de crochet.