sábado, abril 4

CONTO ALENTEJANO





A avó e o netino
vão pelo caminho
através da planície,
olhando as searas
e os prados.
E, dando passadas,
pergunta o petiz:
- Avó! é bem verdade
o que a gente diz
que esta grande herdade
é dum só senhor?
- Sim, meu amor;
sim, infelizmente.
e julgo que tem mais.
Por isso muita gente
não tem casas nem quintais,
nem sequer onde plantar uma flor.
- E aquela boiada?
- Também é dele.
Uns têm tudo, outros nada!
Eu adoro Deus, sou crente.
Mas, Deus, infinita bondade,
desejaria tudo bem diferente.
Porque, senhor,
tão injusta divisão
não é coisa de cristão.
E a criança,
vendo os passarinhos
voar,
quer saber
se os seus ninhos
e o ar
também são do lavrador.
Francisco Miguel Duarte

4 comentários:

Susete Evaristo disse...

Não conhecia fiquei encantada.
Obrigada por teres publicado este contos do Chico Miguel.
Beijinhos

Sal disse...

coro alentejano... que bem que me soube este poema, principalmente agora que acabei de agendar uma descida a Serpa para esta semana...
ahhhhh que bem que me vai saber...
beijinhos

XICA disse...

Susete, o livro de onde consta este e outros contos do xico é muito velhinho, foi por mim herdado de alguém que já cá não está.
prometo trazer mais, muntos Jinhos.

XICA disse...

E agora nózes tovarich SAL, ora conte-me lá a menina, tudinho e em pormenor, já que vem cá para as nossas bandas alentejanas, como podemos, se é que podemos, encontrar a menina, que a malta sem esforço nenhum encontra.
A sério Sal, tu vais estar em Serpa?