quarta-feira, abril 16

O CAMINHO DA LIBERDADE

.... Aquelas duas moças ofereciam-me intuitivamente confiança.
- Fugi do meu país! - disse de chofre
- Mas porquê? - perguntaram as duas, em uníssono e com ar visivelmente intrigado.
- Por causa da politica! - respondi.
Hoje o meu país é um país amordaçado, que não conhece a liberdade nem a democracia. Um país empobrecido, onde os homens são obrigados a ir procurar trabalho noutros países. E depois há os outros, como eu, que fogem da opressão e que procuram resistir lá dentro ou cá fora, ao regime fascista.
É assim o meu país, do qual tão pouco se fala por esse mundo fora.

Para mim, naquele momento, o frio e a fome, as feridas que trazia por dentro e por fora, as balas que haviam ressoado por cima da minha cabeça, os amigos que ficaram na montanha, tudo isso fazia parte dessa aventura, que ficaria também como testemunho da minha luta contra uma forma hedionda de fascismo.

Um vago e confuso sentimento de vitória foi-se instalando insidiosamente em mim. Vitória sobre mim mesmo, vitória sobre o fascismo português, vitória sobre a policia e os militares franceses que pretendiam travar a minha marcha para a liberdade. Senti-me mais forte do que nunca e do que todos, como um herói invencível de uma banda desenhada.

Agradeci, com emoção, àquelas duas alemãs que ficaram a saber que no meio daquela europa dos ricos havia um país sem liberdade, um pequeno país, transformado numa gande prisão, onde a tortura e a morte eram moeda corrente para aqueles que lutavam e resistiam. Apetecia-me chorar e rir ao mesmo tempo, mas depois de tudo o que lhes tinha contado, tinha que dar às minhas companheiras de viagem, a imagem de um militante consciente, combativo e revolucionário, que sabia resistir a todas as emoções....

Alvaro Morna

Excertos, do testemunho na primeira pessoa, do livro que deu título a este post. São memórias como estas, que em momentos de apatia e desalento nos dão força para continuarmos.

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