terça-feira, março 18

ÍDOLO




O imaginário feminino é fértil na criação de ídolos, o meu imaginário não o criou, limitou-se a tê-lo como referência ao longo da minha vida.


Vivemos numa sociedade constituida maioritáriamente por pessoas que avaliam muito e sentem pouco, amanhã será o dia em que se pronuncia uma palavra mais intensamente, quando mais não seja, explorada pela publicidade. Por isso mesmo, eu decidi homenagear o meu - PAI - hoje. Todos os dias faço questão de lhe dizer e demonstrar como ele foi, é e continuará a ser importante, pelos ensinamentos que me deixa, pela generosidade, pelo carinho….

Emoção, ternura, tristeza é um misto de sentimentos sempre que se pronuncia a palavra – PAI – bom, sensível, carinhoso e sobretudo alegre, gracejava com todos e ria imenso, ocultando assim os seus sofrimentos.

Sem mãe aos 11anos; na adolescência, enquanto os outros frequentavam festas e bailes, ele afastava-se da vida comum e despertava para novas ideias, que o levaram às prisões – humilhações, torturas, perseguições – dominava o pensamento revolucionário como um mestre, de discurso fácil e sentido, foi sempre admirado e respeitado por quantos o conheciam; pela simplicidade, clareza e força com que falava da penosidade da vida, da violência, da mentira e da injustiça.

Seguem-se muitos anos de emigração, porque acreditava num mundo melhor e mais justo para uma filha que deixava com 6 meses e só voltou a ver já com 3 anos. A irregularidade das visitas ao nosso país termina com ABRIL de 1974, data a partir da qual, eu tenho um pai a tempo inteiro.

Um pai de olhos azuis muito expressivos e sempre me lembro deles a expressarem descontentamento; trabalhador zeloso, exigente e com limites bem definidos.
Por tudo isto, acredito na imortalidade das pessoas honestas e corajosas, na imortalidade daqueles que me deram a felicidade de viver a vida magnifica que vivo, que me embriaga de alegria, pelo crescimento das ideias a que sou fiel.

6 comentários:

Susete Evaristo disse...

Dias do Pai ou da Mãe são todos os dias enquanto os temos comnosco. Dias em que os devemos amar, respeitar e ajudar quando a idade já pesa. Há 18 anos perdi o meu pai há 8 a minha mãe. Nunca tive um dia especial para os homenagear e depois que os perdi, a minha homenagem é respeitar para sempre a sua memória.

Mar disse...

Minha amiga:
estás a fazer tudo certo, com ele. E ele, embora não o verbalize, tenho a certeza que se sente feliz. E orgulhoso. De ti, de ter sabido tão bem transmitir-te todos os valores por que lutou. Entendo bem a tua admiração pelo Homem, tanto quanto o teu amor pelo Pai. Aliás, lendo o que escreveste dei conta que poderia transcrever textualmente tudo, igualzinho tirando só o pormenor da prisão, para falar do meu. Pai.
Um beijo grande

Mazdak disse...

bela moça!!!! um grande beijo, com um abraço maior, pa ti...

samuel disse...

Muito bonito este texto!

Abreijo

XICA disse...

Eu tinha razão quando descrevi os AMIGOS num Post anterior, lembram-se?.... a estradinha.....Um abraço grande!

Ti Zé da Gorpelha Rota disse...

Faço das palavras da Mar as minhas. Também eu tive a felicidade de ter tido um Pai que foi um Ser Humano espectacular e se bem que sempre tivesse sido Ateu, eu que o nunca fui, sou ou serei, não consigo, de cada vez que preciso de um referencial que me reporte a Cristo deixar de pensar no meu Pai sempre em primeiro lugar.