TÁXI

O descontentamento e o descrédito nos politicos originou um curto diálogo com alguém cujas origens e infância ficaram por terras algarvias, na pele ficou impregnado o amor ao mar e à terra, a distância marcou-o e a revolta foi tema para o monólogo que se seguiu.

A irresponsabilidade enquanto caracteristica marcante da juventude, o proteccionismo com que são tratados; passou a vassoura pela classe dos agricultores a falta de iniciativa, de criatividade e de dinamismo, a subsidiodependência que origina carros e veleiros xpto, tudo menos o sacrificar o descanso por amor à terra, à produção para o país.

Pelo meio ficam as apreciações ao que de bom Lisboa ainda tem e o muito que já perdeu, da falta de qualidade dos grandes espaços e o enaltecer das tasquinhas tipicas de Alfama que sustentam as familias que nelas trabalham por amor a lisboa e pelo prazer que lhes dá partilhar o melhor que sabem fazer. Uma das muitas sugestões aguçou o nosso interesse e o nosso apetite voraz de 8 horas sem que qualquer alimento tocasse o estômago. Ao nosso assentimento pela boa sugestão, o nosso cicerone esboçou finalmente um sorriso timido e desconfiado mas cheio de vontade de voltar a encontrar-nos no dia seguinte para mais dois dedos de conversa e atenção, percebemos que lhe haviamos conquistado a simpatia.

As muitas sensações dos cheiros de Lisboa atropelam-me, a escadaria faz-me sentir em casa e à nossa espera uma sala, um piano e a luz ténue das velas colocadas sobre as mesas com o carinho e a delicadeza das mãos que sentem como se em sua casa recebessem os amigos, esses amigos que sabem da partilha de sons e cheiros, de corpos que se contorcem ao ritmo quente da musica.

Os amigos vão chegando, trazem expectativas, muita fome e uma vontade imensa de cantar. As vozes afinam-se nos jarros de sangria que vão chegando e são pretexto para mais uma espreitadela à amizade, à alegria e ao calor com que enchemos a sala que foi só nossa.

Imponentes vozes a trilharem os caminhos do mais profundo do meu ser repleto de felicidade.